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A guerra entre a Rússia e a Ucrânia foi o estopim para desencadear uma escala de aumentos sucessivos no preço do petróleo no mercado internacional. Desde a invasão russa, no dia 24 de fevereiro, o preço do barril do Brent, o petróleo cru usado como referência para designar o valor da commodity, bateu os US$ 100 dólares e não saiu mais dos três dígitos. No dia 7 de março, dez dias após o início das invasões, houve o pico ao patamar de US$ 139,13. No momento, o preço oscila na casa dos US$ 120.
Embora o conflito na Eurásia tenha influência na cotação, a realidade é que o eventual fim da guerra não representa um panorama de descenso no preço do petróleo. Isto porque os efeitos sobre o valor do barril têm outras fontes. “O problema real ocorreu no início da pandemia, quando as indústrias interromperam momentaneamente as atividades. As petrolíferas também foram obrigadas a fazer esse enfrentamento, enquanto a demanda pelo produto manteve-se em alta”, explica Gustavo Vaz, financista e sócio da Atrio Investimentos.
Segundo ele, em 2021 já havia indícios de que a oferta comprometida do produto levaria a um aumento do preço do barril este ano, ainda que não houvesse o conflito. “A realidade do setor hoje é de um desejo global impactado por uma interrupção dos países produtores, resultando numa forte pressão sobre o preço. A pandemia também fez interromper projetos de exploração que manteriam oferta e demanda em equilíbrio, e foi essa desordem que fez com que os preços disparassem”, analisa o financista.
O executivo pontua ainda a inexistência de concorrentes no mercado brasileiro como fator decisivo para a inflação dos combustíveis. A Petrobras, empresa estatal que controla a produção e praticamente todo o refinamento de petróleo no país, faz com que o mercado interno seja completamente dependente da sua política de preços. “Para garantir uma independência maior dos preços em relação às políticas da estatal, seria necessário considerar a privatização da empresa ou ao menos de parte de suas operações, e ainda reduzir a interferência perversa da Agência Nacional do Petróleo [ANP] nessa política”, pondera Gustavo Vaz.
O executivo da Atrio Investimentos alerta que ainda há um agravante nesse cenário. As nações que compõem a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) não demonstram entusiasmo em retomar a extração de petróleo ao patamar de antes da pandemia para reequilibrar o consumo. “Não é por acaso que outros países desconfiam dessa política, que está levando o mundo a pagar 40% mais caro pelo produto. É uma inflação globalizada, sem indicativos de que possa cair”, avalia.
Investimentos
Os investimentos que seriam realizados há dois anos e que tendem a ser retomados a partir de agora podem sinalizar para uma possibilidade de aumento da produção e uma consequente redução dos preços, mas Gustavo Vaz avisa que essa é uma perspectiva de médio prazo.
“Não sabemos também qual é a política de preços que as empresas vão adotar ao intensificar a produção, mas não deixa de ser um alento para um mercado tão inflamado como agora”, pontua. “Se isso não acontecer, talvez venham à tona projetos ainda mais ousados e urgentes de fontes de energia e insumos que substituam o petróleo”, finaliza.
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